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Notícias
Preços de materiais e equipamentos sobem 16,7% em 11 meses
Alguns insumos subiram mais de 30%; tendência é de manutenção da alta por mais alguns meses; incorporadoras relatam dificuldades
Henrique Cisman
02/12/2020
O Índice Nacional do Custo da Construção (INCC) medido e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apresentou nova alta em novembro, a segunda maior do ano, equivalente a 1,29%. Mais uma vez, o principal componente para o crescimento foi o grupo de materiais, equipamentos e serviços, que no mês passado subiu 2,45%, também o segundo maior salto do ano.
Passados onze meses de 2020, o INCC acumula alta de 7,71%. No recorte dos materiais e equipamentos, apenas, a alta é ainda mais expressiva, de 16,7%, com alguns materiais encarecidos em mais de 30%, como tubos e conexões de ferro e aço, eletrodutos de PVC e condutores elétricos. Veja a lista abaixo.
A disparada no preço dos insumos da construção vem sendo debatida há alguns meses, quando incorporadoras e associações do setor perceberam variações acima da média em materiais como cimento, tijolo, cerâmica e tubos e conexões de PVC. O encarecimento dos custos das obras foi agravado a partir de julho, como ilustra o gráfico a seguir.
Segundo André Marin, diretor de incorporação da Construtora Laguna, o primeiro impacto – e também o mais grave – sentido pela empresa foi em relação ao desabastecimento. “Muitos materiais não chegaram conforme planejado, mas ainda não houve atraso na entrega das unidades para o cliente final. A gestão de engenharia tem sido bem complexa e ativa”, afirma o executivo.
David Bertoncello, CEO da MFO Engenharia, também conta que a incorporadora sentiu os impactos da alta nos preços em um primeiro momento, mas conseguiu antecipar o desabastecimento ao realizar compras em grande quantidade com preço fechado junto aos fornecedores: “Foi a medida adotada para apagar o incêndio”.
O vice-presidente de Negócios da Construtora Pacaembu, Victor Bassan, revela que a empresa criou um grupo focado em buscar soluções para a questão da alta nos preços e do desabastecimento de materiais. “Uma das opções será substituir os materiais tradicionais por insumos alternativos buscando otimizações no processo de produção e no projeto arquitetônico”, afirma Bassan.
O VP da Pacaembu diz ainda que espera uma desaceleração na velocidade dos aumentos de preços à medida em que as capacidades de produção das indústrias sejam restabelecidas. Mesmo assim, a construtora já iniciou a prospecção de novos fornecedores, conta o executivo.
Segundo Marin, da Construtora Laguna, projetos sem muito estoque podem sofrer defasagem de custo se o INCC não acompanhar o aumento nos preços dos insumos para reajuste. “A variação do INCC nem sempre condiz com a efetiva alta nos preços de alguns materiais. Se a empresa precisa de mais aço e ele tem um preço mais elevado, por exemplo, vai haver impacto maior naquela fase de obra. Como o INCC é uma média de uma cesta de produtos, geralmente não reflete a real situação”.
Mesmo assim, o executivo pontua que a situação atual “não tira o sono”, pois faz parte da dinâmica do mercado imobiliário. Marin assinala que a incorporadora vai repassar os custos ao cliente final tanto nos projetos a serem lançados quanto naqueles que têm obras em andamento: “Talvez isso impacte um pouco a velocidade de vendas, o que não acreditamos que vá ocorrer”.
Semelhante medida não será adotada pela MFO Engenharia, que atua focada no público do Programa Casa Verde Amarela. “Não conseguimos repassar o aumento do custo para o consumidor final”, afirma Bertoncello. “A perspectiva é que volte ao normal no ano que vem, mas não sei se volta mais”, completa.
Segundo Bassan, a Pacaembu está avaliando projeto a projeto a possibilidade de repassar a alta nos custos da construção, mesmo que parcialmente, ao preço final dos imóveis. “No público em que atuamos, os espaços para acomodação de preços não são os mesmos da média e alta renda”, pontua o executivo.
O que explica a alta nos custos do materiais?
Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do IBRE/FGV, a pandemia desorganizou a produção industrial com a paralisação de muitas unidades e fábricas inteiras, seja por conta da necessidade de estabelecer o isolamento social como pela projeção de uma drástica queda na demanda que não se concretizou.
“Até houve uma queda em um primeiro momento, mas a recuperação foi muito rápida. A indústria não é como o comércio, que simplesmente reabre as portas ou atende online. A indústria demanda mais tempo para se recompor”, afirma.
“Ninguém imaginava, após os dois primeiros meses de pandemia, que a demanda fosse crescer tão rapidamente. O indicador do IBGE de volume de vendas de materiais de construção tem crescimento de quase 8% no ano, enquanto a produção na indústria de material de construção tem uma queda aproximada de 5%. Vemos claramente um descompasso entre oferta e demanda”, completa.
Outro fator, segundo Castelo, é o aumento no preço dos insumos industriais, principalmente daqueles corrigidos pelo dólar, que em 2020 apresenta variação próxima dos 40% frente ao real, como as commodities metálicas. “Também houve aumento nos preços da energia e do frete”, acrescenta a economista.
Um último componente, aponta a coordenadora do IBRE/FGV, é a provável recomposição de margem [de lucro] dos setores industriais. “Não podemos afirmar, mas o momento é propício”, assinala Ana Maria Castelo.
Peso do varejo e do contexto político-econômico
A economista ressalta o papel do varejo no desequilíbrio entre oferta e demanda observado atualmente: “As reformas estão no auge, não apenas as que têm origem nas famílias de baixa renda devido ao auxílio emergencial (responsável por esse boom na demanda), como também nas de média e alta renda que procuraram se adaptar à quarentena”, explica Castelo.
“Vamos lembrar que a construção formal encolheu significativamente nos últimos anos – de 2014 a 2018, o PIB caiu quase 30%. Apesar de ensaiar uma recuperação no ano passado, o movimento de alta não está disseminado. Ele está muito forte em São Paulo e houve crescimento nas vendas na média do país, mas os números ainda não alcançaram os patamares do auge do boom imobiliário”, completa.
A economista enxerga que a conjuntura econômica do Brasil não colabora para a mudança do cenário atual: “O governo federal tem dificuldade de fechar uma agenda e levá-la ao Congresso, como a questão fiscal, a política de auxílio emergencial, o comando efetivo no combate à Covid-19, e tudo isso também pesa. Precisa sinalizar as diretrizes em relação ao ambiente macroeconômico e diminuir as incertezas; isso é fundamental para a economia, manutenção da taxa de juros e valorização cambial”.
Quando haverá equilíbrio?
Para Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do Sinduscon/SP (Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo), a questão do desabastecimento está próxima de ser solucionada, porém a alta nos preços deve continuar pelo menos até o final do 1º trimestre de 2020. A projeção foi realizada nesta terça-feira (1) durante coletiva de imprensa do Sinduscon/SP em resposta à Smartus.
Ana Castelo afirma que o grupo material de construção – um dos componentes do Índice de Preços ao Produtor Amplo – desacelerou no mês passado e isso deve começar a se refletir no INCC. Por outro lado, a economista indica que as taxas ainda estão muito altas e que até essa desaceleração chegar na ponta, ou seja, para as construtoras, antes há uma cadeia de distribuição; assim, o cenário de equilíbrio pode levar tempo.
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