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    Pandemia reduz produção de insumos para a construção em 34%

    Presidente da Abramat e vice-presidente do Sinduscon/PR indicam motivos da queda

    Daniel Caravetti

    08/06/2020

    De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em abril de 2020 a produção industrial caiu 18,8% frente ao mês anterior (série com ajuste sazonal), o que significou a queda mais acentuada desde o início da série histórica, em 2002. A situação reflete os efeitos do isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. 

    Já em relação a abril de 2019 (série sem ajuste sazonal), a indústria recuou 27,2% e também atingiu o recorde negativo da série histórica nessa comparação. No mesmo período, a produção de insumos para a construção registrou queda de 34,2%, o que revela uma baixa na atividade do setor.

    A retração do segmento também pode ser verificada nas estatísticas coletadas pela Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção). Segundo o presidente Rodrigo Navarro, na pesquisa realizada em abril, 70% das empresas associadas ao órgão consideraram o desempenho de vendas ruim ou muito ruim, sendo que metade verificou queda no volume de produção entre 40% e 60%.

    De acordo com Marcos Kahtalian, vice-presidente de Banco de Dados do Sinduscon/PR e sócio-fundador da Brain, os números refletem a estagnação que aconteceu nos estados em que as obras foram interrompidas e também na construção informal, no qual estão inseridos reparos, reformas e pequenas obras. 

    “Embora tenha sido considerada atividade essencial em alguns estados, a construção foi interrompida em outros, o que afeta a produção industrial. Já o segmento informal da construção, que também movimenta o mercado, praticamente parou, pois implica, geralmente, na ida de uma pessoa à casa de outra”, diz.

    Em raciocínio semelhante, Navarro ressalta a pausa na construção informal como vetor importante para a baixa produção industrial: “[A queda] está relacionada com a construção autogerida, que é aquela onde pessoas físicas e jurídicas, que não são construtoras ou empreiteiras especializadas, adquirem no varejo os materiais para realização de obras de menor porte, reformas, ampliações ou manutenções prediais”.

    “Boa parte das obras desse perfil foi interrompida por decisões dos próprios consumidores, pelos riscos de perda de emprego e renda, e por priorizar outros gastos demandados pela pandemia. Além disso, houve restrições de entrada em condomínios residenciais visando a segurança sanitária dos moradores e o menor incômodo às pessoas que passaram a trabalhar em home office”, completa.

    Vale lembrar, porém, que mesmo na construção formal, nos locais onde não houve paralisação de obras, lançamentos foram adiados e houve uma redução no ritmo de trabalho. Kahtalian ainda ressalta outro motivo para a queda na produção de insumos da construção: o fechamento de lojas de materiais, que compram uma parcela significativa dos suprimentos produzidos.

    Navarro entende que sofreram maior queda na demanda justamente os produtos mais consumidos em obras de reformas, como materiais de acabamento, além dos materiais básicos de construção, que são afetados como um todo.

    Disponibilidade de insumos

    Com uma instabilidade na cadeia de insumos para a construção, incorporadoras que pretendem dar sequência às obras poderiam sofrer com a falta ou atraso de suprimentos. Os dois especialistas, porém, consentem que este problema não tem sido recorrente até o momento.

    “De maneira geral, não temos recebido relatos de problemas de fornecimento, como atraso de material por parte dos fabricantes. O que houve foi a falta de suprimentos de emergência, conhecidos como complementos de obra, normalmente encontrados em lojas de material de construção, que, por sua vez, estavam fechadas”, diz o vice-presidente do Sinduscon/PR.

    “Dentre os associados da Abramat, não há relatos de atrasos de fornecimento de materiais às obras em andamento”, afirma o presidente da associação, que ainda garante que a entidade constituiu um comitê interno de crise com reuniões frequentes entre os associados, além de participar de discussões frequentes com o governo federal durante a pandemia.

    Por parte das incorporadoras consultadas, a disponibilidade de materiais também não é considerada um contratempo até o momento. Rafael Cuppoloni, fundador da Huma, garante que a empresa não teve problemas com fornecimento de insumos.

    A situação é semelhante para o MFO Engenharia: “Procuramos sempre comprar matéria-prima nos municípios em que construímos e não tivemos muitos problemas”, afirma o co-fundador e CEO da empresa, David Bertoncello.

    Assim como os demais incorporadores, o diretor técnico da Tarjab, Sergio Domingues, minimiza a gravidade da questão, mas não deixa de compartilhar as adversidades vividas quanto à disponibilidade de insumos.

    “Ocorreram alguns atrasos, mas de forma pontual. Tivemos, por exemplo, uma postergação na concretagem por falta de efetivo. A entrega de materiais é responsabilidade do setor logístico, que está muito demandado na pandemia, tendo convivido com falta de espaço em depósitos e com menor número de motoristas. De qualquer forma, não foram problemas que vão impactar o prazo de entrega de obra”, diz.

    Em recente pesquisa realizada pela Smartus com 134 líderes de incorporadoras e loteadoras, pouco mais de 8% citaram a escassez de matéria-prima como fator prejudicial durante a pandemia.

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