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    PIB da construção cai 2,4% e setor volta ao patamar de 2008

    De acordo com economista da FGV, caso houvesse a paralisação de obras, quadro seria ainda mais drástico

    Daniel Caravetti

    04/06/2020

    O PIB da construção caiu 2,4% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o último trimestre de 2019, de acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Neste mesmo período, houve queda de 1,5% na economia nacional, que teve sua projeção para 2020 revisada pelo Boletim Focus para -6,25% e deve retroceder ao patamar de 2012.

    No comparativo anual, o PIB da construção caiu 1% no primeiro trimestre de 2020, o que encerrou uma sequência de três trimestres de taxas positivas. A situação interrompeu a retomada esperada para 2020 e levou o setor ao patamar de atividade do início de 2008. 

    Para o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) e a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), a retração foi mais influenciada pelo segmento informal do setor, uma vez que as construtoras seguem atuando durante a crise da Covid-19.

    “A queda era esperada, principalmente por refletir a paralisação das atividades do segmento informal de autoconstrução e reformas. Já a grande maioria das construtoras formais do país continua operando, com todos os cuidados necessários à preservação da saúde dos trabalhadores”, diz o vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan.

    “Observamos que o segmento informal do setor, assim como o de outras atividades, foi muito mais afetado no início desta crise”, afirma José Carlos Martins, presidente da CBIC, que ainda cita o modelo dos projetos das obras de infraestrutura como outro agravante da situação.

    “Se o país tivesse optado por realizar uma quantidade maior de obras menores, em detrimento de concentrar esforços em poucos projetos de concessão gigantescos, hoje teríamos muito mais obras sendo realizadas pelo Brasil afora. O investimento precisa ser capilarizado, regionalizado e diversificado”, completa. 

    Projeção do PIB da construção para 2020

    No final de 2019, o Sinduscon-SP, em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), estimou alta de 3% no PIB da construção para 2020. Com a disseminação do novo coronavírus, a realidade se alterou e, assim como a economia nacional, o setor de construção apresentará uma contração neste ano.

    De acordo com Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção no IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV, a academia já projetava uma queda de 11% no PIB da construção para 2020, previamente à divulgação dos dados do primeiro trimestre. Neste momento, a economista não descarta uma retração ainda maior.

    A grande discussão é como será esse movimento de retomada. A queda pode ser mais drástica, mas precisamos aguardar mais um pouco para fazer uma nova projeção para este ano”, diz em entrevista à Smartus.

    Isso porque Castelo entende que a retração no 2T20 deve ser ainda mais forte do que no trimestre inicial, uma vez que os impactos da crise serão ainda mais sentidos pelo setor: “O impacto no primeiro trimestre foi apenas da segunda quinzena de março. No segundo trimestre, provavelmente teremos os três meses, abril, maio e junho, atingidos pelo isolamento social”.

    Como citado anteriormente, no 1T20, a queda do PIB da construção, de 2,4%, foi maior do que da economia nacional, de 1,5%. Além dos fatores ligados à construção informal, citados por Zaidan e Martins, a economista da FGV entende que o setor foi atingido em um momento de inconsistência.

    “A construção ensaiou uma recuperação tímida no ano passado e as margens ainda eram frágeis. O setor foi pego em uma fase de recuperação, que sabíamos que seria lenta e precisava de mais consistência. Vimos, por exemplo, o mercado imobiliário reagir, mas muito concentrado na região Sudeste. Também é um setor, assim como o de serviços, intensivo em mão de obra, tendo a possibilidade de ser mais atingido em momentos de crise”, explica. 

    Vale lembrar que a retração só não foi maior porque em muitos estados a construção foi considerada atividade essencial e prosseguiu com as obras, mesmo com uma redução no ritmo. Caso contrário, Castelo entende que o quadro seria dramático: “Pensando nas obras do mercado imobiliário, muitos projetos do ano passado entraram em obra este ano. Parar isso completamente teria consequências muito intensas”.

    Não há dúvida que as perspectivas de melhora na construção estão interligadas com a recuperação da economia geral, que pode inserir maior confiança nos empresários e aumentar a demanda do mercado. Entretanto, assim como o presidente da CBIC, Castelo aposta no segmento de infraestrutura como estímulo do setor e enaltece a necessidade de investimento em obras públicas neste momento.

    Participação no PIB

    Em 1998, a construção representou 6,95% do PIB do Brasil, valor que nunca mais foi atingido pelo setor. Entre altos e baixos, o setor respondeu por 3,2% em 2019 e, devido à crise causada pela disseminação do novo coronavírus, a tendência é que a participação seja ainda menor em 2020.

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