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    Lançamentos recuam 44%, mas vendas ficam estáveis no 1º semestre

    Projeção é de que o 2º semestre responda por 70% a 75% do total lançado e vendido em 2020

    Henrique Cisman

    24/08/2020

    A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apresentou na manhã desta segunda-feira (24) os indicadores imobiliários nacionais referentes ao 1º semestre de 2020. Para o presidente da entidade, José Carlos Martins, o desempenho do setor é “motivo de alegria” – considerando o cenário imposto pelo novo coronavírus. “A combinação de juros baixos aliada ao maior tempo que as pessoas ficaram em casa foram muito importantes para este desempenho”, afirmou.

    Represamento de novos projetos indica boom no 2º semestre

    Entre janeiro e junho, os lançamentos caíram 43,9% na comparação com o 1º semestre de 2019, totalizando 37,5 mil unidades. A sondagem considera apenas empreendimentos verticais em 132 municípios do país – capitais, grandes cidades e regiões metropolitanas. Segundo Martins, o recuo era esperado devido à insegurança dos empresários com a chegada da pandemia. 

    “Houve um represamento no 1º semestre, mas 70% dos empresários afirmam que vão lançar até o final de 2020 o mesmo volume planejado [antes da pandemia]. Vai haver um boom de lançamentos no 2º semestre”, afirmou o presidente da CBIC.

    Todas as regiões do país apresentaram forte retração nos lançamentos. Fonte: CBIC

    No recorte do 2º trimestre, o qual foi totalmente impactado pelas medidas de isolamento social, o recuo nos lançamentos foi de 60,9% em relação a 2019 e de 20,4% na comparação com o 1º trimestre. No acumulado dos últimos 12 meses, foram lançadas 146,6 mil unidades.

    Vendas se mantêm apesar do fechamento de stands e imobiliárias

    De janeiro a junho, a quantidade de imóveis vendidos praticamente se manteve em relação ao mesmo período em 2019: houve retração de 2,2%, totalizando 71.109 unidades comercializadas. Na comparação com o 1º trimestre de 2020, o período de abril a junho teve queda de 16,6% nas vendas. 

    Ao contrário do que ocorreu nos lançamentos, em que todas as regiões apresentaram retração no recorte do 1º semestre em relação a 2019, as vendas cresceram nas regiões Sul, Norte e Nordeste, mas a queda no Sudeste foi vital para o recuo do indicador, já que São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo respondem por 45% de todos os imóveis vendidos. 

    Vendas subiram em três regiões, apesar da pandemia do novo coronavírus. Fonte: CBIC

    De acordo com o presidente da Comissão da Indústria Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci, o comparativo mensal entre lançamentos e vendas mostra uma retomada significativa no mês de junho. “O mês de abril foi o mais impactado pela pandemia, foi o fundo do poço”, afirmou o economista. Petrucci acrescentou que na época nem todos os estados haviam determinado a construção civil como atividade essencial.

    Sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica e responsável pela sondagem mensal de impactos da pandemia no mercado imobiliário, Fábio Araújo destacou que a baixa quantidade de lançamentos impediu um melhor resultado das vendas. “Imóveis na planta são vendidos mais rapidamente”, lembrou. 

    Escoamento da oferta cai para menos de 11 meses

    A oferta final disponível – que considera os lançamentos, as unidades em construção e os imóveis prontos – caiu 7,1% no 1º semestre de 2020 em relação ao mesmo período no ano passado. A oscilação pode ser explicada pela estabilidade das vendas diante da retenção dos lançamentos.

    Considerando a média de vendas dos últimos 12 meses encerrados em junho, o escoamento da oferta final ocorrerá em 10,9 meses. Em janeiro de 2019, este indicador estava em 15 meses. Segundo Petrucci, a oferta está saudável e não haverá problema de estoque. 

    Por outro lado, o especialista pontuou que se não houver retomada dos lançamentos no 2º semestre, haverá falta de oferta disponível nos próximos meses. “Nossa estimativa é que haverá retomada a partir de setembro”, disse Petrucci durante a apresentação.  

    Apartamentos de 1 dormitório têm bons mercados nas regiões Sudeste e Sul, mas maioria da demanda permanece nas unidades com dois quartos. Norte é destaque em imóveis maiores. Fonte: CBIC

    Representatividade do MCMV segue alta

    Mais uma vez, o programa Minha Casa, Minha Vida teve papel importante nos indicadores imobiliários. De acordo com o levantamento, empreendimentos financiados no âmbito do programa representaram 55,6% dos novos lançamentos e 56% das vendas no 2º trimestre de 2020. 

    Na oferta final disponível, o MCMV representa pouco mais de 41%. “O processo de venda é mais ágil”, explicou Petrucci. Segundo o especialista, se considerar cidades menores que não entraram no levantamento, “o programa responde por pelo menos 75% do mercado imobiliário nacional”. 

    O presidente da CII ressaltou que o setor é altamente dependente do FGTS e que o fundo é de extrema importância para a geração de empregos e tributos. “Nossa defesa do FGTS não é para os empresários, mas, sim, para os brasileiros de mais baixa renda que têm no Minha Casa, Minha Vida o acesso à primeira moradia”.

    Neste contexto, vale destacar que hoje o FGTS é a única fonte de recursos para subsidiar as compras nas faixas 1,5 e 2 do Minha Casa, Minha Vida diante da falta de recursos da União, fator que vinha travando novos empreendimentos.  

    Em um momento de incerteza sobre o futuro do FGTS, que tem sido utilizado para minimizar os impactos da Covid-19 na economia, o presidente da CBIC, José Carlos Martins, disse que o fundo não foi criado para estimular o consumo nem para complementar a renda das pessoas. “Até hoje, 12 milhões de moradias foram construídas com recursos do FGTS. Quero saber onde iam morar essas pessoas”, questionou. 

    Preços oscilam pouco, mas custo de materiais é preocupante

    Encerrando a apresentação dos indicadores imobiliários do 1º semestre, Celso Petrucci comentou a oscilação nos preços dos imóveis residenciais, que praticamente ficaram estáveis, em linha com a variação das vendas. “O preço da oferta para os consumidores está no patamar mais baixo dos últimos 12 meses. O momento é bastante adequado para compra”, disse.

    Em relação ao INCC (Índice Nacional de Custos da Construção), que manteve curva de alta mesmo durante a pandemia, Petrucci assinalou que o setor está preocupado com o aumento nos preços. “Inicialmente as altas foram de cimento e aço; agora, também de PVC, louças e outros materiais de construção”. 

    Preço dos imóveis caiu nos últimos 12 meses, mas custos da construção continuam subindo. Fonte: CBIC

    O presidente da CII disse que alguns insumos já estão em falta, principalmente pelo aumento do consumo de pequenos compradores, condicionado às políticas de auxílio emergencial. “Estamos alertas para que nenhum segmento de produção de insumos se aproveite desse momento – sem paralisação de obras e com aumento do consumo – para realizar aumentos desmesurados”.

    Já o presidente da CBIC foi mais duro: “É preocupante a falta de sensibilidade de alguns segmentos da economia, querendo se aproveitar da manutenção da atividade. Não existe pensamento estratégico do setor. Ao pressionar a inflação, joga para cima a taxa de juros. Precisa de sensibilidade”.

    Governo vai criar MP para reduzir burocracia

    A apresentação dos indicadores contou com a presença do secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos Alexandre da Costa, que destacou a importância do setor na retomada da economia e afirmou que o governo trabalha em uma série de medidas para desburocratizar a construção civil brasileira.

    “Vamos apresentar um pacote de ações – já conversadas com CBIC, Abrainc, Secovi e outras entidades do setor – resolvendo problemas históricos. Precisamos desacorrentar os empresários para que eles façam investimentos e consigam crescer”, afirmou Costa. A expectativa, segundo Martins, é que algo seja concretizado ainda em 2020.

    Martins ainda revelou que Carlos Alexandre da Costa autorizou, na última sexta-feira (21), a criação de um conselho estratégico da construção dentro do governo federal para “idealizar uma estratégia única para o segmento”. 

    Perguntado sobre a expectativa para o 2º semestre, Martins disse que os lançamentos vão crescer de 20% a 30% na comparação com 2019. Já Celso Petrucci enxerga que o desempenho do setor de julho a dezembro vai representar de 70% a 75% dos totais de lançamentos e vendas em 2020. 

    “O sonho é que o ano seja parecido com 2019, mas vai ser difícil em função do que ocorreu no 1º semestre. O resultado deve ficar entre os números de 2018 e 2019”.

    Foto: Smartus – Guilherme Favaron

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