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Retrospectiva: hotelaria indica lenta recuperação à crise
Já a multipropriedade apresenta números mais otimistas
Daniel Caravetti
18/12/2020
A disseminação do novo coronavírus foi um infortúnio para quase todos os setores da economia. No entanto, para alguns deles, como a hotelaria e o turismo em geral, o cenário causou a derrocada das atividades da noite para o dia. Em junho, o presidente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Manoel Cardoso Linhares, chegou a classificar a situação como ‘beira da falência’.
Realmente alguns hotéis não suportaram as taxas de ocupação abaixo da média ao longo de todo o ano e ficaram pelo caminho. No ano passado, por exemplo, ainda longe do patamar ideal, a hotelaria brasileira apresentou ocupação média de 55,14%, de acordo com dados do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil).
Em entrevista recente à Smartus, Linhares garantiu que a pandemia paralisou o setor hoteleiro e o ano foi perdido. Mesmo assim, assegurou que ainda é difícil dimensionar o número de meios de hospedagem que encerraram completamente suas operações.
Neste contexto, o ramo mais afetado foi o turismo de negócios. De acordo com o presidente do FOHB, Orlando de Souza, os hotéis deste segmento têm apresentado taxas de ocupação entre 10% a 15% neste final de ano.
“A escolha neste caso não é individual e depende de congressos, eventos, reuniões ou convenções. A decisão é da empresa, que normalmente não permite viagens de executivos procurando respeitar os protocolos de segurança internos”, explicou recentemente para a Smartus.
Enquanto isso, a ligeira recuperação registrada nos últimos meses, chegando a 31,64% de ocupação em outubro, está relacionada com o turismo de lazer. Segundo Souza, os hotéis que oferecem este tipo de serviço têm apresentado taxas de ocupação entre 40% e 45% nos últimos meses.
Segundo o especialista, este movimento está relacionado com pessoas que se sentiram mais confortáveis em viajar com a estagnação na taxa de contágio do novo coronavírus ou que cansaram do confinamento.
É importante ressaltar que a procura tem sido maior pelo turismo doméstico, primordialmente para destinos em que o trajeto possa ser feito de carro. A valorização destas viagens pode ser um raro impacto positivo para o setor hoteleiro – em 2019, turistas brasileiros gastaram US$ 17,5 bilhões no exterior, de acordo com o Banco Central.
Sem perspectivas concretas e ameaçada por uma segunda onda, a hotelaria brasileira depende do controle da Covid-19 para se restabelecer. Considerando este cenário de insegurança, o FOHB, em parceria com HotelInvest, traçou projeções conservadoras, moderadas e otimistas para os hotéis urbanos e resorts, levando em conta a RevPar (receita por quarto disponível).
Mesmo assim, é importante ressaltar que, por mais complexa que seja a atual situação, o setor hoteleiro tem procurado se reinventar durante a crise para manter a saúde financeira. Neste contexto, algumas medidas inicialmente paliativas podem permanecer após a pandemia.
Multipropriedade
Outros ativos imobiliários que dependem da retomada do turismo para sua sobrevivência são os de multipropriedade. No período de afrouxamento da quarentena, o ramo também apresentou uma ligeira melhora em relação à ocupação dos empreendimentos.
Quanto ao número de projetos, o resultado de 2020 foi positivo, principalmente considerando a pandemia. De acordo com relatório da consultoria imobiliária Caio Calfat, a oferta evoluiu 18% em relação ao ano anterior, chegando a 109 empreendimentos, com VGV de R$ 24,1 bilhões. Do total de projetos, 53 estão prontos, 39 em construção e 17 em fase de lançamento.
Vale ressaltar também a expansão geográfica desta modalidade de ativo, que chegou a 60 cidades de 18 diferentes estados neste ano e já conta com 430 mil frações. Para 2021, o especialista que dá nome à consultoria acredita que serão entregues ao mercado aproximadamente 4,5 mil novos apartamentos, o que representará cerca de dois terços da oferta total em uso atualmente.
Calfat ressalta ainda que o ano de 2020 foi importante para a evolução do modelo de multipropriedade no Brasil: “Nunca houve tanta produção e compartilhamento de conhecimento qualificado entre os agentes desse mercado. Fomos impactados por uma forte onda de lives, artigos em jornais e periódicos acadêmicos, reportagens em revistas especializadas, entre outras ações”.
“O resultado disso tudo foi inovação em todas as áreas: vendas on-line, pós-venda, melhorias na gestão das incorporações e na operação das multipropriedades. Provavelmente, conversaremos daqui para frente em termos de como era antes e como ficou depois da pandemia”.
Foto: Communications Accor/Flickr
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