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Intenção de compra de imóvel supera patamar pré-pandemia, indica pesquisa
É a primeira vez que isso acontece desde a chegada da Covid-19 ao Brasil
Henrique Cisman
26/11/2020
A 5ª etapa da pesquisa realizada pela Brain Inteligência Estratégica junto a consumidores de todo o país revela que pela primeira vez desde a chegada da Covid-19 ao Brasil, a intenção de compra é maior do que antes da pandemia. Segundo levantamento realizado com 1,4 mil brasileiros entre os dias 25 de outubro e 25 de novembro, o desejo de comprar um imóvel novo saltou 15% desde agosto, alcançando o patamar de 46% do total de entrevistados.
Esta é a terceira alta consecutiva após uma queda acumulada de 65% na intenção de compra entre os meses de março e abril. A retomada do interesse pela casa própria ou pela compra de upgrade ocorreu a partir de junho e se intensificou no levantamento realizado em agosto. Veja a evolução no gráfico a seguir.
Para o sócio-diretor da Brain, Fábio Tadeu Araújo, a alta pode ser explicada principalmente pelo baixo patamar das taxas de juros no financiamento habitacional e o maior tempo no qual as pessoas ficaram em casa desde o início da pandemia.
O bom momento do setor se reflete nos indicadores imobiliários nacionais divulgados esta semana pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Para Araújo, o 4º trimestre será ainda melhor em lançamentos, mas não deve igualar o resultado do ano passado; nas vendas, a expectativa é que o período entre outubro e dezembro seja o melhor da história em número de unidades.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista realizada com o sócio da Brain.
De acordo com a última etapa da pesquisa, 7% dos respondentes compraram imóvel nos últimos 12 meses. É um dado positivo?
O dado é muito positivo. O normal é que a maior parte das pessoas não tenha comprado. Esse número gira entre 5% e 6% das famílias brasileiras por ano. Quando há 7%, está acima do que costuma acontecer. O mercado está aquecido nos últimos meses: 63% de quem comprou imóvel este ano o fez durante a pandemia, o que mostra que houve uma alta nos últimos 3 ou 4 meses. Isso não era esperado lá no início.
Há dois fatores importantes: primeiro, a taxa de juros no menor patamar da história, que impacta tanto na conta de quem vai tomar crédito quanto nos investimentos de quem tem dinheiro guardado porque a remuneração diminuiu muito. Isso é mais importante no mercado de classe alta, pois são pessoas que têm mais dinheiro guardado. Hoje, o investimento perde para a inflação. Quem tinha dinheiro na poupança vê um custo de oportunidade baixo para tirar o recurso do banco e usar como entrada em um imóvel.
O segundo fator é que à medida que as pessoas ficaram muito tempo em casa, quiseram melhorar a moradia. Há pessoas que não estão satisfeitas e outras que mesmo satisfeitas estão pensando em migrar; por exemplo: famílias com filhos que moram em apartamentos e veem como boa opção mudar para uma casa. Esse tipo de movimento de melhoria da qualidade de vida também contribuiu para uma demanda além do esperado neste período.
Qual tem sido o comportamento da intenção de compra ao longo da pandemia?
Quando houve o primeiro impacto e em 15 dias uma queda de quase metade [na intenção de compra], nós fomos até positivos em nossa avaliação [dos números] porque a impressão é de que o mundo iria acabar. Talvez agora, passados oito meses, as pessoas não se deem mais conta disso. Nós vimos uma quantidade enorme de empresas – inclusive a Brain – replanejando seu orçamento ao projetar venda zero no restante do ano.
Houve uma queda inicial de 45% – que é enorme e jamais havia acontecido – mas, dada a realidade do momento, até foi vista pela perspectiva do copo meio cheio. Quando chegou no final de abril, já estudávamos bastante o que havia acontecido na Europa e nos EUA e claramente o mercado imobiliário estava sofrendo menos porque é um setor no qual existe uma necessidade de reposição demográfica. Todo ano, há em torno de 1,1 milhão de casamentos, 300 mil a 350 mil divórcios, 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas mudando de cidade. Com ou sem pandemia, essas pessoas precisam morar.
O dinamismo demográfico do país forçou positivamente o mercado imobiliário. Em 45 dias, perdeu-se ainda um pouco mais da demanda, mas logo começou a recuperação. Imaginávamos que seria uma recuperação demorada e longa, mas ela de repente explodiu por conta desse movimento duplo de queda da taxas de juros e aumento da vontade de comprar imóveis. A parte mais surpreendente foi a recuperação rápida e para um patamar muito alto, mais alto do que antes da pandemia.
Qual dado é mais relevante nesse levantamento de intenção de compra?
O mais importante é o percentual de 13% para 6 meses. Das pessoas que desejam comprar no curtíssimo prazo, em torno de metade vai realizar a compra. Acima de 24 meses, ela só vai se concretizar se houver um lançamento que ainda não existe na cidade, em uma região que o atraia e por um preço que faça sentido. As pessoas antecipam a compra quando são impactadas por uma novidade de seu interesse.
Qual foi o impacto da pandemia sobre o tipo de imóvel desejado?
A pandemia teve um impacto maior na mudança de demanda quanto mais elevada era a renda. Para famílias com renda mensal de até R$ 8 mil, isso aconteceu em 4% delas; para as que têm renda mensal de R$ 8 mil a R$ 15 mil, em 20%; naquelas com renda mensal acima de R$ 15 mil, 40% das famílias mudaram o tipo de imóvel desejado.
Quais são suas expectativas para o 4º trimestre? E para o 1º trimestre de 2021?
Eu acredito que o 4º trimestre de 2020 será melhor do que o 3º trimestre, mas pior do que o 4º trimestre de 2019 em lançamentos. E que vai ser o melhor da história em número de vendas.
O 1º trimestre de 2021 vai ser bem forte; não vai haver uma queda grande [do 4T20 para o 1T21] como houve em outros anos. Sempre o 1º trimestre é o pior e o último é o melhor, segundo o histórico de levantamentos da CBIC (realizado desde 2016), mas acredito que essa queda não será tão grande porque muitas incorporadoras não tiveram tempo hábil para lançar. Nas vendas, também não deve haver uma discrepância grande.
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