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    Notícias

    Hotelaria vê ocupação subir, mas ainda longe do patamar pré-pandemia

    Valorização do turismo doméstico pode ser um raro impacto positivo para o setor

    Daniel Caravetti

    27/11/2020

    Após uma queda brutal nos negócios em função da pandemia e do isolamento social, o setor hoteleiro começa a apresentar uma recuperação lenta e gradual. De acordo com dados do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), a taxa de ocupação dos hotéis brasileiros ultrapassou 30% no último mês de outubro.

    Fonte: INFOHB

    Segundo Mauro Rial, CFO da Accor América do Sul, um nível ‘normal’ para o mercado  brasileiro deveria estar acima de  70%. No ano passado, por exemplo, foi registrada uma taxa de ocupação de 60% no Brasil, mas o país estava saindo de uma crise de inventário, que acabou agravada pela situação macroeconômica atual.

    O especialista também compara a recuperação da hotelaria no Brasil com a de outros lugares do mundo. Segundo Rial, o país apresenta, em geral, taxas de ocupação inferiores aos países orientais, mas muito pelo fato de a pandemia ter chegado posteriormente aqui. 

    “Na China, os patamares de ocupação estão acima de 60% e já se igualam aos números pré-pandemia. Ela pode significar uma esperança para outros mercados, como o brasileiro, que estava se consolidando quando chegou a pandemia”, afirma.

    Desempenho anual

    O impacto da pandemia foi realmente intenso na hotelaria brasileira. Mesmo com as recentes altas, a ocupação dos hotéis apresenta baixa de 50,8% de janeiro a outubro de 2020, em relação ao mesmo período do ano passado. Respectivamente, as taxas são de 28,9% e 58,72%.

    “A pandemia paralisou o setor hoteleiro e o ano foi perdido. Ainda é difícil dimensionar o número de meios de hospedagem que vão encerrar completamente suas operações, mas há muitos hotéis e pousadas fechados ou funcionando com severas restrições”, afirma Manoel Linhares, presidente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis).

    Já o presidente da FOHB, Orlando de Souza, ressalta que taxas de ocupação por volta de 30% não possibilitam resultados positivos em nenhuma operação hoteleira. Ele ainda lembra de importantes hotéis brasileiros que fecharam definitivamente as portas por conta da pandemia.

    “Alguns hotéis não resistiram à crise, como o Laje de Pedras, em Canela (RS), o Hotel Everest, no Rio de Janeiro (RJ), ou o Maksoud Plaza, em São Paulo (SP)”, aponta o especialista.

    Errata: Inicialmente, na fala acima, a matéria incluiu o Hotel NH, em São Paulo, o qual teve as atividades encerradas em 2008. 

    Turismo de lazer

    O presidente da FOHB afirma que as recentes altas nas taxas de ocupação do setor hoteleiro estão relacionadas quase exclusivamente ao turismo de lazer, no qual os hotéis têm apresentado uma taxa de ocupação próxima a 40%. Em algumas pousadas menores e particulares, o número pode chegar a 70%.

    “São pessoas e famílias que se sentiram mais confortáveis em viajar com a estagnação na taxa de contágio do novo coronavírus ou que cansaram do confinamento, seja individual ou familiar. Isso não significa que estamos caminhando para o fim da pandemia”, diz Souza.

    Rial segue raciocínio semelhante: “A pandemia tem gerado uma demanda represada porque as pessoas se viram obrigadas a ficar em casa. Para as que mantiveram sua base de renda, foi feita uma poupança forçada a partir da redução de gastos. Não se podia viajar, ir ao restaurante, ir ao bar etc. A partir do momento em que se afrouxou a quarentena, teve um pequeno ‘boom’ de lazer”.

    Não só no Brasil, como em todo o mundo, as viagens durante a pandemia têm sido realizadas majoritariamente através do modal rodoviário para destinos próximos. Segundo o CFO da Accor, em alguns casos existe uma demanda dos próprios residente da cidade, “que enxergam nos hotéis uma maneira de espairecer”.

    Assim, se houve alguma coisa positiva na pandemia, foi a valorização do turismo doméstico, que deve se confirmar no final de ano. O CEO da STX, Marcelo Conde, lembra que os brasileiros que consumiam o produto “viagem internacional” gastaram no exterior US$ 17,5 bilhões em 2019, de acordo com o Banco Central.

    “Uma pequena parte disso está indo para o turismo local. É importante que o brasileiro visite mais destinos nacionais e conheça o Brasil, até porque estamos absolutamente fora do circuito turístico internacional”, pontua Conde. 

    Turismo de negócios

    Se o turismo de lazer vem apresentando melhora, o turismo de negócios segue estagnado em meio à pandemia. De acordo com o presidente da FOHB, os hotéis deste segmento têm apresentado taxas de ocupação entre 10% a 15%, o que influencia na média geral observada. 

    “Neste caso, a decisão não é individual e depende de congressos, eventos, reuniões ou convenções. A decisão é da empresa, que normalmente não permite viagens de executivos procurando respeitar os protocolos de segurança internos”, explica Souza.

    No entanto, o CFO da Accor ressalta que os hotéis estão cada vez mais prontos para atender a demanda de eventos por meio de protocolos diferenciados e modelos híbridos. O executivo cita o Brazil GRI 2020 como exemplo: “Foi uma amostra de que quando se leva o assunto a sério, pode-se fazer um evento com total segurança”.

    Mesmo assim, Rial admite que o turismo de negócios deve se recuperar muito mais lentamente, até por conta da situação econômica atual. Ele cita estudos que estimam entre  3  a 5 anos para que o segmento volte ao patamar de 2019.  

    Perspectivas para 2021

    Em entrevistas à Smartus, além de comentarem a atual situação da hotelaria brasileira, os especialistas projetaram o próximo ano do setor. O presidente da ABIH, Manoel Linhares, está otimista para 2021: “A hotelaria está pronta para receber os viajantes. Com o número de casos caindo, a tendência é a busca por viagens aumentar”. 

    Um pouco mais cauteloso, Orlando de Souza, presidente da FOHB, está preocupado com um novo aumento no número de casos da Covid-19: “Imaginar que isso tudo muda em 2021 é ilusório. Pode acontecer uma retomada, mas teremos que aguardar. Se tivermos uma segunda onda, como está havendo na Europa, podemos dar passos para trás”.

    Fora isso, o especialista critica a postura do governo, que não criou medidas específicas para os setores hoteleiro e de turismo, muito afetados pela pandemia. Este último ainda foi beneficiado pelas medidas provisórias que garantiram auxílio emergencial, suspensão de contrato e redução proporcional de jornada e salário para funcionários.

    “Fomos beneficiados dentro da economia como um todo, mas extremamente prejudicados por ficarmos fora da prorrogação da desoneração da folha de pagamentos, que foi mantida apenas para os mesmos 17 setores. O turismo emprega mais de 3,3 milhões de pessoas e não foi contemplado, o que é um absurdo”, diz Souza.

    Já Marcelo Conde, CEO da incorporadora de hotéis STX, acredita que o setor hoteleiro deve superar a crise no fim do ano que vem. Até lá, o executivo entende que existe uma oportunidade de renovar parques hoteleiros e, por isso, espera lançar quatro empreendimentos na capital paulista em 2021.

    O CFO da Accor Hotels, Mauro Rial, entende que no ano que vem deve haver uma aceleração  em conversões  de bandeiras independentes de hotéis para grandes cadeias e garante: “No nosso pipeline, não houve projetos cancelados ou anulados por conta da pandemia”.   

    Foto: twenty20photos/Envato

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