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    E
    Editorial

    Novo normal não é para quem quer, é para quem pode

    Escolher onde trabalhar não é uma opção para maioria dos brasileiros

    Henrique Cisman

    16/06/2020

    É curioso como o mundo é movido por ondas, sejam elas políticas, econômicas, ideológicas ou culturais. Com o advento da pandemia do novo coronavírus, governos de quase todos os países precisaram determinar o fechamento do comércio e a paralisação de boa parte das atividades a fim de estancar a disseminação da doença. Até aí, nada de onda – chamamos de urgência. 

    Porém, passadas algumas semanas de isolamento social, ganhou força em todo o mundo o conceito de home office permanente, ou seja, migrar os trabalhadores para o trabalho remoto realizado em casa. 

    Aparentemente, há muitas vantagens nisso: para os funcionários, economia de tempo ao evitar o trânsito caótico das grandes cidades, proximidade da família e maior liberdade para determinar os próprios horários são algumas delas. Para as empresas, a economia com os aluguéis corporativos é o grande chamariz, fora a redução de custos com benefícios como vale-refeição e vale-transporte. 

    Entretanto, os entusiastas do home office parecem tomar como realidade de todo o país o que é possível para somente uma pequena parcela de trabalhadores e modelos de negócio. Aqui, em uma nação ainda subdesenvolvida, apenas uma minoria das ocupações permite esta transição.

    Nem estamos falando dos problemas inerentes ao home office – poderíamos discorrer sobre distrações com familiares, falta de segurança cibernética, problemas de postura devido à mobília imprópria, distanciamento dos colegas, aumento do stress, comunicação menos frequente com líderes, dificuldade para promoção etc. Este não é o foco.

    O objetivo, sim, é colocar luz à questão do que se chama de novo normal. É óbvio que haverá mais pessoas trabalhando em casa depois da pandemia do que havia antes dela. Mas o home office já existia. Não é algo disruptivo, inovador, que chegou para quebrar paradigmas e instituir uma nova realidade às empresas. O que vai ocorrer, sim, é uma alternância maior entre ir ao escritório e trabalhar remotamente.

    Mas isso vale apenas para os profissionais cujas funções o permitam ou às empresas cujos modelos de negócio funcionem bem com boa parte dos colaboradores trabalhando cada qual em sua residência. Algo que – como já dissemos – não é tão comum no Brasil.

    Três pesquisadores – dois do Ipea e um do IBGE – fizeram um estudo para avaliar a tendência dos empregos no país ao trabalho em home office. De acordo com o levantamento, apenas 22,7% das ocupações no país são adaptáveis a este modelo. A maior tendência está nas atividades científicas e intelectuais (65%) – nem precisamos destacar a falta de protagonismo destes segmentos no fator quantidade de empregos gerados à população.

    Por outro lado, algumas categorias apresentam tendência zero, como policiais e bombeiros. Outras, como a construção civil, têm adaptabilidade muito baixa, inferior a 10%. Mesmo para os cargos de diretoria, gerência e administração, não se permite a transição completa para fora dos escritórios. Novamente, soa exagerada a ideia de uma revolução nas relações de trabalho pós-pandemia.

    Se vamos chamar de novo normal a possibilidade de trocar o posto de trabalho pelo home office, então certamente esta realidade não é para quem a quer, mas para quem pode obtê-la. Considerando o estrato social e a composição da economia do Brasil, digamos que o novo normal não será assim tão diferente. 

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