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Novos projetos: morar deverá ser um ato de prazer, diz arquiteto
Exigência por versatilidade dos espaços será maior em unidades residenciais
Daniel Caravetti
07/07/2020
“Morar vai ter que ser um ato de prazer”, afirma o arquiteto Marcio Lupion, referindo-se ao novo cenário consolidado com a pandemia de Covid-19. Segundo o especialista, responsável pela revitalização do bairro da Liberdade, em São Paulo, e professor de arquitetura do Mackenzie, mesmo com o desenvolvimento de uma vacina, a leitura do ‘viver’ – assim como a leitura econômica – foi alterada.
“Houve uma alteração qualitativa na vida das pessoas. Aquela correria exagerada que vivenciávamos deve entrar em estagnação e as pessoas irão priorizar mais a qualidade do que a quantidade. Muitas empresas também perceberam que o home office pode ser mais barato e já se calcula que metade delas vai adotar esse modelo permanentemente. Inclusive, a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, cancelou as aulas presenciais até o fim do ano letivo de 2021”, cita Lupion.
O cenário já tem surtido efeitos nas pessoas, que têm buscado reformar espaços ou, até, se mudar para novas casas. Outro arquiteto, Carlos Salamanca garante que a procura pelos serviços prestados aumentou durante a quarentena, tanto para reformas quanto para novas residências: “A preocupação com melhorias nas casas cresceu”, diz.
Empreendimentos maiores
Desse modo, não se pode negar que a alteração na maneira de viver impacta, consequentemente, o conceito de casa daqui em diante, fato que não pode ser ignorado no desenvolvimento de novos projetos imobiliários. Uma das maiores necessidades será o aumento de espaço nas residências, como explica Lupion.
“A rotina de ir para academia, depois para o trabalho e à noite para um encontro não existe mais. Todas essas atividades estão sendo deslocadas para as residências e calculamos que haverá acréscimo próximo a 9 m2 para cada uma delas, o que significa um aumento médio de 27 m2 nas casas”, afirma.
Outra necessidade ressaltada é a de gerar núcleos individuais para as pessoas, fato que também deve impactar no aumento das residências. Assim, Lupion entende que novos projetos de apartamentos com 60 m2 devem ser repensados para mais de 100 m2.
A questão também foi ressaltada por Salamanca em um projeto desenvolvido junto a uma construtora: “Durante as conversas, comentamos que deveriam haver menos unidades por andar e, portanto, apartamentos mais espaçosos. Também estamos vendo se é possível aumentar a altura do prédio, gerar espaços maiores. Todos os quartos, por exemplo, devem ter dimensão suficiente para caber uma mesa, criando um espaço individual”.
Versatilidade dos cômodos
Já que nem sempre será possível aumentar significamente o tamanho das residências, a versatilidade dos cômodos também pode ser uma tendência em um futuro próximo. Desse modo, um mesmo espaço pode ser adaptado para diferentes atividades, como explica Salamanca.
“As pessoas estão mais preocupadas em ter um espaço de permanência diversificável. Em apartamentos, por exemplo, muitas delas já querem fechar o espaço da varanda para montar uma área de atividade física ou um escritório. Por sua vez, o escritório pode ser adaptado para ser também um estúdio de música e a sala pode ganhar equipamentos de exercício, que serão utilizados enquanto os moradores assistem à televisão”, esclarece.
Quanto à versatilidade dos cômodos, Lupion ressalta que isso já é uma realidade em outros países, como Japão e China, que apresentam densidade demográfica elevada e altos preços por m2. Pensando nisso, há 15 anos ele desenvolve uma pesquisa sobre microhouse na universidade em que é professor.
“É uma técnica bastante utilizada em iates e navios, por conta da compartimentação desses lugares. Na China, por exemplo, já existem apartamentos de 25 m2 com 50 opções de uso. Neste caso, todo arsenal de mobilidade tem que mudar. No segmento residencial, trata-se do conceito de casa japonesa”, explica.
Ressignificação de espaços
Com aumento da procura durante o período de isolamento social, o arquiteto Carlos Salamanca compartilha novas necessidades solicitadas pelos clientes, muitas delas relacionadas à resignificação dos espaços, como na entrada das casas.
“O hall de entrada era um espaço destinado à organização. Ali, muitas vezes se deixava chave, bolsa, carteira, calçados, entre outras coisas. Com a pandemia, passou a ter maiores funções de limpeza, pois é o local de chegada dos moradores. Isso também fortalece a necessidade de uma entrada de serviço, na qual as roupas utilizadas fora de casa já podem ser deixadas na lavanderia”, diz Salamanca.
Até por uma questão de saúde, outros elementos que ganham importância são a incidência solar e a ventilação nas residências: “As pessoas passaram a se preocupar muito mais com a iluminação dos ambientes, portanto, a orientação solar das residências deve ganhar importância. Como as pessoas passavam grande parte do dia fora de casa, isso não era tão exigido no período pré-pandemia. Além disso, nos novos projetos existe uma preocupação para que os espaços sejam mais arejados”, acrescenta.
O que muda nas cidades?
O cenário descrito pelos especialistas também deve alterar as cidades. De acordo com o arquiteto Marcio Lupion, que realiza diversos estudos referentes à cidade de São Paulo, o conceito de moradia proposto por studios e apartamentos coliving pode ser repensado. A Vila Madalena, por exemplo, é um bairro desenvolvido para uma vida ‘fora de casa’, segundo o especialista.
“Mesmo propondo um estilo de vida não acumulativo, estes apartamentos não contêm o necessário para uma sanidade espacial. O conceito de apartamento pousada cresceu porque as pessoas moravam de passagem, levando a vida fora de casa. Mas, agora, passando a ficar boa parte do dia em casa, elas vão conseguir transitar por estes espaços em paz?”, questiona.
Neste sentido, o especialista entende que, nas metrópoles, pode haver aumento na procura por apartamentos usados e maiores, ou mesmo por casarões abandonados em bairros nobres: “Imóveis deste tipo localizados em zonas de superestrutura, ou seja, que contêm serviços como farmácia e supermercado próximos, devem ser mais procurados”, indica.
Para finalizar, Lupion reflete sobre as novas dinâmicas nos condomínios residenciais, que também devem se adequar a este novo momento: “Terão que se adaptar a essa questão de distanciamento. A academia terá hora marcada e elevadores terão comandos por voz. Quanto maior o condomínio, mais preocupante é a questão da contaminação”, conclui.
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